Autor : – Zé Roberto Balestra
Para quem acha “chique no úrtimo” e um “barato” curtir o inverno, eis aqui uma
passagem que se sucedeu conosco, dada num desses tantos dias 17 de julho por
nós já vividos, mas aquele era o de 1975.
Naquela data aos 25 anos de idade trabalhávamos na Copel, na função de
Operador de Subestação, na cidade de Mamborê (PR), região de Campo Mourão.
Nosso plantão individual naquele dia, ou melhor, naquela noite, fora das 20:00h de
17.07 às 04h00 de 18.07.
Recém-casados (14.12.1974) havia pouco mais de seis meses, e pelo frio que fizera
durante aquele dia 17 convidamos a então jovem esposa para nos acompanhar
à subestação, onde ela poderia se proteger melhor do frio da noite estando em
ambiente com equipamento de refrigeração lá instalado na sala de operações.
Por volta das 23h20, enquanto ela, sob ar aquecido, dormia sobre algumas
cadeiras, encolhida sob uma coberta que levamos, e já havendo feito diversas
leituras dos equipamentos no pátio desde as 20h registrando a temperatura
ambiente externa e interna do local, vimos que a temperatura baixava com
rapidez a cada leitura. O céu estava lindamente limpo e estrelado, sem vento
algum naquela noite ou madrugada. Então resolvemos colocar um copo
americano de vidro com água sobre a calçada externa por conta da sensação
térmica que sentíamos, isto para aferi-la em sua realidade.
Pressentíamos que com o frio intenso o risco de cabos de alta tensão da
subestação se arrebentarem seria iminente. Isto nos preocupava deveras,
sobretudo porque trabalhávamos sozinho. A solução de eventual problema dessa
ordem para restabelecer a transmissão ali para diversas cidades seria complexa.
Às 00h saímos da sala de operações indo para o barramento externo da
subestação para fazermos as novas leituras dos equipamentos. Olhamos para o
copo d’água sobre a calçada: estava congeladíssimo!, e isto ocorreu em menos
de quarenta minutos. Naquela madrugada já de 18.07.75, até as 04h havíamos
aferido e registrado nos relatórios de operação temperatura de até oito graus
Celsius abaixo de zero.
Voltando a pé para casa com a esposa (nosso único veículo naquele tempo eram
os sapatos), passamos pela tosca ponte de madeira do ribeirão, onde o frio
parecia – e era! – mais forte ainda; numa poça próxima à ponte do ribeirão a água
estava toda congelada… Dava para andar sobre.
No decorrer daquele dia 18.07.75 ficamos sabendo que o cafezal paranaense
havia sido implacavelmente dizimado pela fortíssima geada da madrugada, a
GEADA NEGRA. Um ano após, em 13.07.1976 abandonávamos a estabilidade do
emprego na Copel e seguíamos – a esposa já grávida de nosso primeiro filho – para
o estado do Pará, em Altamira, na Rodovia Transamazônica, onde pretendíamos
dar andamento aos nossos sonhos de conquistas de conforto material para nossa
família neste Plano. Lá ficamos por cinco anos. Mas isto é já outra história…